Faz-se
necessário esclarecer que os assuntos que serão abordados aqui, referem-se ao
entendimento espiritual, cristalizado, que os filhos de Deus receberam durante
os vários séculos após a Bíblia ter sido completada como sendo a revelação do
que Deus tenciona realizar e que estava oculto Nele mesmo, desde os séculos e
das gerações.
Sob
essa perspectiva, é fundamental a percepção, como filhos de Deus, pessoas que
receberam um novo coração, de que a vida cristã é, antes de qualquer coisa, uma
vida de dependência, primeiramente de Deus, depois uns dos outros. Por isso
mesmo, Paulo ao escrever a epístola aos Filipenses, especialmente no capítulo
dois, usa como exemplo a vida do próprio Senhor Jesus, para tentar expor aos
crentes de Filipos que eles deveriam se submeter uns aos outros,
considerando-os cada um aos outros superiores a si mesmos. Portanto, entende-se
que o mencionado em Fp. 1:27, sobre lutar juntos pela fé evangélica, é muito
significativo e só há uma maneira de isso ser possível: “estar firmes em um só
espírito, com uma só alma”. Para se tornar realidade é indispensável ter o
mesmo tipo de pensar que houve também em Cristo Jesus, “a mente de escravo”.
Portanto,
todos os que foram verdadeiramente regenerados, precisam lidar com as
peculiaridades, maneira de pensar, que é característico de cada um, mas que pode
torná-los divisivos, facciosos, sectários. Estes “traços” não foram
características encontradas no Senhor Jesus, pois Ele, como o Deus eterno,
tinha em Seu poder escolher ser independente, mas Ele trilhou o caminho da
dependência ao Pai. O Senhor foi tão dependente no Seu viver humano, que mesmo
para nascer, Ele buscou o caminho de depender, nascendo numa manjedoura em
Belém, dependendo daqueles a quem fora confiada à tutela humana do Senhor. Dá
para imaginar, o próprio Deus que se tornou carne, escolher esse tipo de vida?
Dependendo de José e Maria, para ser conduzido de um lado para o outro? Mas foi
exatamente esse o modelo que todos os filhos de Deus precisam aprender deste
inigualável, que não buscou ser grande, mas dependeu do Pai e do Seu arranjo
soberano.
Outro
fato intrigante, é que o Senhor Jesus não escreveu nada. Alguns ousam a dizer
que Ele não sabia ler e escrever. Entretanto, não há base bíblica alguma sobre
tal afirmação, pois os hebreus são um povo que sempre primaram pela questão do
saber ler e escrever. Além disso, está claramente registrado no Evangelho de
Lucas, 4:17, que o Senhor leu uma passagem do livro de Isaías. Mas por que
então o Senhor não escrevera nada? Não teria o Senhor capacidade para tal?
Certamente Ele era totalmente capaz, quando viveu Sua humanidade. A pergunta a
ser feita é, qual lição poderemos aprender disso? Algo básico que deve ser
percebido no estudo das escrituras é que, no que diz respeito às biografias dos
personagens bíblicos, o falar registrado de Deus é tão importante quanto o
silêncio de Deus. Vemos isso claramente no viver de Abraão, especialmente ao
ter aceitado a ideia de Sara em conceber através de sua serva Hagar um filho.
Após aceitar tal proposta, a Bíblia registra, propositadamente, que Deus
calou-se por treze anos, sem aparecer novamente para Abraão, mostrando
implicitamente que Ele não aprovara tal atitude. Assim, compreende-se que até
mesmo no silêncio, Deus está falando.
Várias
pessoas têm questionado sobre a inspiração da Palavra Sagrada, argumentando ser
esta escrita por homens e não diretamente pelo próprio Deus. E até mesmo
enquanto estava na carne, o Senhor também não escrevera nada, apenas ensinou
transmitindo verbalmente suas palavras, sem, contudo, Ele próprio registrar palavra
alguma. Mas, mais uma vez deve-se questionar, por quê? É imprescindível crê que,
no que diz respeito ao Senhor Jesus, tudo vivido por Ele baseou-se no princípio de
que resolveu voluntariamente tomar o caminho inverso que o Seu inimigo
tomou, ou seja, o da humilhação, da dependência. Então, baseado neste
princípio, o Senhor escolheu o caminho de transmitir ao Seu povo, bem como à toda
a terra, o Seu desejo através dos homens que O seguiram em vida, sendo exceção
Paulo e Lucas. De fato, o Deus Eterno é infinitamente sábio e Ele transmite seus
princípios, não simplesmente ensinando com palavras, mas Ele próprio tomou a
liderança em viver tal vida que é totalmente dependente do Pai.
No
entanto, o seu inimigo, com sua vida independente, injetou no homem a sua
natureza, levando o homem a tornar-se independente de Deus, e após a queda, tornou-se a regra básica do mundo, que jaz no maligno, a independência. Até
mesmo entre os filhos de Deus, as várias divisões que resultaram no
cristianismo de hoje são na verdade fruto dos assim chamados “ministérios”, que
procuram fundamentar suas divisões em uma linha de interpretação própria, que
pode parecer bíblica, mas o seu resultado mostra-se justamente o contrário ao que
o verdadeiro ensinamento deve produzir, ou seja, a unidade. É notório, que as
várias divisões são resultado de uma estratégia de Satanás em fragmentar e
arruinar o Corpo de Cristo, através de opiniões que muitas vezes são
conflitantes umas com as outras e não se constituem a linha central de
interpretação adequada do propósito de Deus, revelados na Bíblia, pois se assim
o fosse não geraria divisão entre os filhos de Deus.
Como
fora dito acima, os filhos de Deus precisam perceber que são pessoas que devem
seguir o modelo deixado pelo próprio Senhor Jesus, que é o caminho da dependência
do Pai, como registrado nos evangelhos, e a partir do livro de Atos, dos
membros do Seu Corpo. Isso é visto especialmente após Sua ascensão com a ordem
aos discípulos para que permanecessem orando em Jerusalém, até que do alto
fossem revestidos de Poder. Por um lado Ele iria executar. Mas por outro Ele
dependia que um grupo de pessoas na terra orasse para que sua vontade fosse
cumprida. Por um lado Ele é todo suficiente, mas para cumprir o seu propósito
Ele necessita do Seu prosseguimento aqui na terra, a igreja.
Após
a igreja ser gerada, a qual tem Cristo como cabeça, Ele próprio constituiu cada
membro com uma função, tornando-os Seu Corpo, sendo que ao constituir os
membros desse único Corpo, ele reafirmara mais uma vez o princípio da
dependência, Dele como a Cabeça, mas também uns dos outros. E o mais
interessante é que ao estabelecer a função, Deus coordenou os seus membros, colocando-os no Corpo, tendo cada um função e limites específicos de atuação,
restando, portanto, para a própria existência do Corpo, a dependência mútua,
além da necessidade de uma consciência do limite de atuação de cada parte.
Paulo ao escrever aos coríntios deixa bem claro essa questão, argumentando com
eles que nem todos tem a mesma função e mostrando que ele próprio, como alguém
que seguia a Cristo, tinha consciência de seu limite de atuação dentro do Corpo
de Cristo.
Assim
sendo, faz-se necessário para que Deus cumpra definitivamente o seu propósito
que é produzir e ter O Corpo de Cristo edificado, e que os seus filhos, como
membros desse Corpo, percebam o seu limite e esfera de atuação e, portanto,
possam atuar dentro desse limite de função, atuação. O problema é: desde o
primeiro século da era cristã, muitos dos filhos de Deus têm sido enganados
pelo inimigo, de maneira sutil, levando-os a extrapolar esse limite de atuação,
sendo especialmente verdade, ao ser analisada a quantidade de literatura
falando a respeito da Pessoa de Cristo, que especificamente, foram produzidas
pelos assim chamados pais da igreja. Isso certamente causou muita perturbação
entre os filhos de Deus e trouxe muitos danos aos que não tinham discernimento,
levando-os a abandonarem o ensinamento saudável dos apóstolos, sem o qual não é
possível haver edificação do Corpo de Cristo (Ef.2:20).
A
não edificação do Corpo é um grande mal que as várias fontes de ensinamentos,
que nascem do ego independente de Deus e do Corpo, terminam produzindo na
igreja de Cristo. Se tirássemos no primeiro século os que a si mesmos se
declaravam apóstolos, e não eram, e por consequência ensinavam diferentemente
da linha central da economia de Deus, não haveria problemas no que diz respeito
aos membros do Corpo de Cristo serem desviados para tantas outras coisas além
de Deus. O inimigo de Deus realmente causou muito dano, por meio do ego, que se
manifestou em várias fontes de ensinamentos, levando muitos a caírem na
artimanha do diabo e na tentação de querer ser algo, ou propor algo,
apresentando aos santos como sendo a “verdade”. No entanto, Deus é soberano, e
a sua revelação foi completada, sendo o Novo Testamento concluído. E muito
embora tenha levado três séculos até que houvesse um reconhecimento por parte
dos líderes entre o povo de Deus de quais eram os livros que constituiriam a
sua santa palavra, ainda assim é necessário crê que tudo estava debaixo da
soberania de Deus.
Hoje existe a Bíblia, a palavra de Deus. Mas
mesmo assim existe um sério risco, de que muito embora tenhamos a mesma Bíblia,
contudo ela poderá não ser igual para todos, no sentido de haver várias linhas
de interpretações, sendo estas surgidas no decorrer dos séculos, após o
reconhecimento da inspiração divina por parte dos seus filhos. Sendo assim, em
realidade perdura o mesmo problema dos primeiros três séculos da era cristã,
entre os seus filhos. Por isso, é importante ir diante do Pai e fazer a oração feita
por Paulo em Efésios, “para que Deus ilumine os olhos de nosso coração, e nos
conceda espírito de sabedoria e revelação no pleno conhecimento de Cristo”.
Pois o diabo, mais uma vez poderá cegar os crentes e introduzir uma série de
ensinamentos que no lugar de edificar, poderá causar os mesmos danos causados à
igreja nos primeiros séculos, sendo estes os vários ensinamentos, que ainda que
fossem bons, não constituíam a linha central da economia de Deus e tinham
origem no fato de muitos não terem consciência do seu limite de atuação dentro
desse Corpo.
Alguns
acreditam que uma vez que exista a Bíblia, não é necessário nenhum tipo de
interpretação feita por homens, pois sendo o Espírito Santo o autor, ele mesmo
esclarecerá diretamente aos seus filhos, a interpretação de sua palavra. No
entanto, sendo o Espírito Santo um, por que tantas divisões existem
então no cristianismo? Sendo uma mesma Bíblia, por que tantas divisões no
cristianismo? Seria essa a vontade do Espírito? Certamente não. Os que afirmam
tais palavras de que não é necessário que ninguém nos ajude a interpretar
adequadamente a palavra de Deus levam em consideração as palavras de João em
sua primeira epístola, que diz que não é necessário que ninguém ensine a
respeito de nada, mas que a unção que permanece, ensina a respeito de todas as
coisas. No entanto, desconsideram a palavra do próprio Senhor Jesus ( Mt.
28:19), em seu comissionamento aos discípulos ordenando-os a fazer discípulos
ensinando e batizando, e também as de Paulo, que comissiona Timóteo dizendo que
o que da parte dele ouviu, isso mesmo ele deveria transmitir a homens fiéis e
idôneos para que eles pudessem transmitir a outros (2ª Tm 2:2). Mais uma vez está
implícito o princípio de dependência, pois os que ouviram deveriam ser fiéis,
no sentido de não acrescentar nada, e muito menos retirar. Poucos percebem a
respeito desta questão tão crucial e por isso dão pouca importância ao fato de
que se deve reconhecer que Cristo dotou alguns, na era da igreja, com
capacidades próprias, estabelecendo Apóstolos, que quer dizer enviados, no
sentido de anunciar os desígnios de Deus, como uma espécie de “embaixador” de
Cristo, com vistas a edificação do Seu Corpo.
Esta
questão é tão séria que ao realizar uma análise histórica da igreja, não
pode ser negado que em períodos diferentes Deus sempre levantou, ou pode-se dizer
“enviou”, alguns para que transmitissem o seu falar, constituindo, portanto o
falar de Deus para todo o seu povo, e qualquer um que quisesse está em
conformidade com o desejo de Seu coração tinha que atentar para o Seu “ministro”,
alguém que representava o líder maior, Cristo. Isso foi verdade em relação a
Paulo, posteriormente João, seguindo com muitos até aos precursores da reforma
protestante, destacando-se o John Huss, que fora condenado pelo tribunal da
Inquisição católica, e logo após Lutero, Calvino e John Wesley, como três
“apóstolos” notáveis dentro da reforma. E em cada um desses, Deus avançava no
sentido de “restaurar” a interpretação adequada das escrituras sagradas, que
fora perdida no decorrer do período conhecido como “idade das trevas”. É
inegável o avanço que houve nesse período singular da história da igreja,
conhecido como Reforma Protestante! Que benção foi ter sido restaurada a
verdade da justificação pela fé, defendida por Martinho Lutero! No entanto o
falar de Deus prossegue e no século XIX, Deus levantou um grupo de irmãos,
conhecidos como os irmãos de Plymouth, destacando-se entre eles a figura de
John Nelson Darby, o qual dedicou toda a sua vida no estudo das escrituras e
foi verdadeiramente um “enviado”, restaurando muitas verdades, e dentre elas a
interpretação adequada sobre o dispensacionalismo. A essa época os que haviam
sido levantados, se posicionavam firmemente contra a divisão, mas que por conta
de vários ensinamentos terem surgido, terminaram se dividindo.
No entanto Deus não parou de enviar seus
apóstolos, sempre comissionando alguns dentre o Seu povo, no sentido de
transmitir o Seu falar, e no século XX levantou Watchman Nee na China
Continental, que seguiu o mesmo princípio de depender, se apoiando sobre outros
que vieram antes dele, dando continuidade ao que poderia ser chamado de uma
“corrida de bastão”, na qual aquele que o recebe tem a obrigação de seguir
adiante, sem desconsiderar os outros que o precederam. E de maneira muito prevalecente,
o Senhor trouxe grande bênção à Sua igreja, falando, ministrando através de
Watchman Nee. A essa altura, Cristo já havia restaurado muitas verdades que,
muito embora estivessem na bíblia, mas que estavam “veladas”. É justamente para
isso que entra a figura do apóstolo, como alguém que recebe o comissionamento
de Deus, levando “luz” tão necessária para iluminação com vistas à visão daquilo
que muito embora esteja presente, mas pode ainda está oculto, por conta da
falta de “luz”. Watchman Nee foi grandemente usado por Deus durante a primeira
metade do século XX, “restaurando” e focando seu ministério em duas questões: A
experiência pessoal dos crentes com Cristo; bem como a unidade prática da
igreja. Todo o falar de Deus por meio de Watchman Nee sempre foi nesse sentido
e pode ser observado isso em sua vasta obra de publicação.
No
entanto, após sua prisão na China Continental, sendo martirizado, por não negar sua fé, o Senhor
soberanamente conduziu um dos Seus filhos, que recebera o “bastão”, nessa “grande
corrida” da era da igreja, para levar adiante todas as verdades “restauradas”,
através da pessoa de Witness Lee. A vida e obra tanto de Whatchman Nee, bem
como de Witness Lee pode ser visto no site, disponível em língua portuguesa, a
seguir: http://www.lsmportugues.org
Assim
sendo, fique bem claro que a administração deste blog, buscará em todas as suas
postagens, sobre os diversos assuntos que serão expostos aqui reproduzir, no
sentido de utilizar trechos de passagens em livros compilados através da
Editora Árvora da Vida, que no passado tinha autorização do Living Stream
Ministry em publicar títulos de livros de autoria de Witness Lee, bem como de
Watchman Nee, mas que foi tirado, conforme esclarecimento contido no endereço: http://www.lsmportugues.org/eadv-pr.html
.
Será
utilizado este tipo de material como fonte, pelo simples fato de a
administração deste blog entender que dentre as várias literaturas e autores
cristãos, os que apresentaram maior fidelidade ao pensamento das escrituras e
trouxe maior "luz" nos últimos cem anos foram àquelas verdades expostas pelo
Watchman Nee, bem como por Witness Lee. A direção também entende que eles são verdadeiramente ministros de Cristo na era presente. Isso não quer dizer que este blog não
reconheça outras fontes de estudo como sendo genuínas, contudo para que não
tenha mais de um “som de trombeta”, no sentido de vir a confundir o
“exército de Cristo”, a Sua igreja, adotaremos como fonte apenas estas.
Além
disso, não é intenção deste blog se colocar como concorrente e usurpar os
direitos autorais do Living Stream Ministry sobre os títulos citados. A proposta
é simplesmente de disponibilizar aos crentes buscadores uma visão panorâmica de
diversos assuntos e como estes dois últimos servos expuseram doutrinariamente.
Assim sendo, a direção deste blog procurará ser fiel ao máximo aos textos, e
não exporá fragmentos de maneira isolada, para que leve o leitor a ter uma
compreensão clara sobre cada assunto a ser abordado.
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